EP: A Sara, mil-Saras, Butler

10/21/2015

Começámos esta sessão com uma boa dose de esperança, crentes de que o tempo estaria do nosso lado. Rumámos até à Graça e palmilhámos um bom par de ruas. Recordámos momentos em que discutíamos ideias e nos atropelávamos nas palavras para explicar tudo o que nos ia na cabeça - e não era coisa pouca. Pousámos as mochilas, o equipamento e começámos a fotografar sem grandes planos, porque era o que nos fazia sentido.

Desta vez trago-vos a Sara. Usando as suas palavras, é uma rapariga como todas as outras - mas isso já nós sabemos. Não sabemos é que a Sara se multiplica por várias como numa galeria de espelhos, em que cada uma delas tem uma particularidade especial e que compõe um todo. Esse todo representa, canta, escreve, fotografa, faz publicidade ... isto tudo é a Sara.






"Uma rapariga que acha que nasceu para fazer tudo e mais alguma coisa. Tenho vários interesses e acho que é isso que me faz diferenciar, porque não gosto só do A ou do B - corro o abecedário todo. Não sou nenhum Fernando Pessoa, mas fragmento-me muito. Há uma pessoa a escrever, há uma pessoa no marketing, há uma pessoa a cantar, há uma pessoa a fotografar... No fundo sou a mesma pessoa, aplico é a energia de formas diferentes".

Muitos de nós chegamos a uma altura da vida em que começamos a fazer coisas que nunca pensámos vir a fazer. Mas a Sara, apesar de todos estes interesses, sempre soube que as artes, o meio artístico e tudo o que com ele estivesse relacionado ia acabar por fazer parte da sua vida. "Quando fui para o curso de Humanidades, apesar disso eu já sabia que ia acabar por vir a fazer representação, estar na música ou algo nesse meio - é o que tem a ver comigo".







Resumidamente não dá para estar parada. As ideias fluem e há que pô-las em prática. Caso contrário seria como aprisionar-se dentro de si mesma ou nas suas várias Saras."Gosto de criar, sou muito criativa e vivo no meu mundinho. Quer entendam ou não é o Meu mundo". 
Disse que esse mundo já a prejudicou em algumas alturas, mas que o que importa é sentir que faz algo de útil. E esse sentido de utilidade não quer dizer que seja só perante outras pessoas, é para si também. E é a criar que se sente bem. "Posso escrever uma música, uma letra que não seja importante para mais ninguém, mas o facto de o fazer para mim é importante".

E mentes assim caminham ao sabor da maré. "Não gosto de fazer planos. Gosto de imaginar como a coisas vão ser daqui para a frente mas tendo em conta o contexto em que nos encontramos é cada vez mais difícil de prever. As coisas podem não correr da maneira que idealizámos e eu prefiro ir sem expectativas, ou com uma expectativa muito baixinha. Depois se o resultado for bom... é perfeito".







Com 6 anos, ainda antes da televisão, começou a trabalhar em publicidade para uma campanha de um grande centro comercial. Desde aí trabalhar assim era normal, era hábito ver a sua cara espalhada em vários outdoors e sabia que o que fazia tinha um retorno financeiro. Isto fez com que não houvesse "uma entrada no meio artístico", porque desde cedo fez parte dele. Além disso "pude contar sempre com um bom apoio familiar. Sou muito racional".

Filha de mãe portuguesa, pai inglês e com muita família no Reino Unido, diz que herdou a pontualidade britânica - comprovado nesta sessão, porque até uns minutos antes da hora combinada a Sara já estava lá para irmos fotografar... Mas a rigidez que normalmente se atribui aos britânicos nunca se aplicou aos conselhos dados pelos pais, que sempre lhe disseram que o caminho era fazer aquilo que gostasse.















E escrever é uma das coisas que gosta de fazer. "Eu escrevo, isso é algo que normalmente as pessoas não sabem sobre mim. Tenho um blog - o Rotinas Sonoras - que não interessa a ninguém (leia-se em tom de brincadeira) mas tenho ... Tenho sempre playlists com cinco músicas, de uma série que é a Lua e o Sol, que representa uma história entre duas pessoas". Essa história também é acompanhada de textos, os quais a Sara nunca editou profissionalmente por "serem demasiado lamechas, são muito próximos de mim. É uma escrita introspectiva e metafórica".














A Sara cantora tem um outro lado mais emotivo - que diz que por vezes as pessoas não conhecem. Essa emoção, leva-a na voz com a ajuda dos restantes elementos da sua banda, os The Ballard Pond. "Somos três elementos com uma formação a alargar-se nos próximos meses. Somos dream pop, indie folk com um bocadinho de indie rock..."
As coisas evoluíram e rapidamente passaram dos ensaios recatados num estúdio no Intendente para passarem a actuar no festival Termómetro, no Porto, ou no Chapitô. O caminho - o da banda e não o que fazíamos de carro Sara! ... - faz-se para a frente com os próximos passos em direcção a um lançamento de um EP, trabalhando para um futuro àlbum.

Já agora, se a sua vida desse um filme - e assegurou dar - seria realizado por Sofia Copolla.
 E porquê? 

"Porque me sinto muito... lost in translation..."



Esta entrevista fez-se a fugir de muita chuva, entre a Graça, Sapadores e a Fábrica de Braço de Prata, ao sabor de uma boa viagem de carro.

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4 comentários

  1. Brutal!!! Que fotos! E que entrevista :D (demorei um bocadinho a reconhecer a Sara, mas de repente as minhas memórias de infância surgiram e fez-se luz lol)
    Tinhas razão em relação à Fábrica de Braço de Prata. Mesmo fixe :)

    http://amarinar.blogspot.pt/

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    1. Obrigada amiga :)! Ainda bem que gostaste, temos de lá voltar então para testarmos e veres ao vivo e a cores!

      Beijinho*

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  2. Está absolutamente incrível.

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