A Raquel sonha. E faz acontecer.

11/02/2015

“Adoro para sempre”. Uma frase que repete de cada vez que sente uma felicidade incontrolável por algo que a apaixona. Seja a coisa mais simples ou a coisa mais complexa.

Não escrevo este EP por conhecer a Raquel desde a infância, mas porque inevitavelmente - apesar de a vida não nos juntar diariamente - os nossos percursos sempre se foram cruzando. Escrevo este EP porque acho que todos nós deviam ter o privilégio de conhecer, pelo menos uma vez na vida, alguém como a Raquel. Alguém que espelhe alegria, que se entusiasme com coisas pequenas aos olhos mas que são gigantes na sua essência, alguém que mostre que tem tantas ideias com valor que não as consegue conter no seu pequeno ser, alguém que nos contagie de tal forma e que nos mostre que tudo se faz e que tudo vale a pena. Cada palavra da Raquel é motivação, é “andar para a frente”, é sentir que temos capacidades apesar de muita gente nos poder dizer que não. “Não consigo fazer isto, e além disso disseram-me que não era assim tão boa ideia”. Esqueçam esse discurso, fujam de quem o debita e façam-se rodear das raquéis deste mundo. 
Isto não é um hino à amizade. É um hino às pessoas que por menos que façam, nos relembram que todos nós lá no fundo temos tanto para dar, tanto para ser. Isto não é uma promoção de personalidade, não é uma promoção à Raquel, é uma promoção ao valor. Todos nós temos algo de especial, às vezes só achamos isso não existe ou que não vale a pena mostrar. A Raquel mostra. E sabe que vale a pena. Sabe que para mudar o mundo, é “preciso começar no nosso quintal”. 
Por tudo isto e muito mais este EP pode parecer mais longo, mas não é. É muito curto para poder a dar a conhecer.
A Raquel é a Alice no País das Maravilhas. É quem recebe os amigos para uma refeição em casa e quem enche a mesa com corações cor-de-rosa. 
Jornalista e coordenadora da SFA - Sonha Faz e Acontece Projecto Portugal, traz na alma a paixão pela escrita e a vontade de ver coisas a acontecer. “Não há nada que esteja a fazer que não goste mesmo muito… Não vejo um fim aos meus projectos e nao gosto de fechar portas”.
Em casa gosta de se fazer rodear pelas coisas que a caracterizam, sejam livros, caixas, velas, fotografias da família e amigos. “Adoro o livro 'Comer, Orar e Amar'. Não só pelo lado cor-de-rosa mas pelas mensagens que traz. Adoro cadernos que me digam alguma coisa para me inspirar, máquinas de escrever, o verde da natureza…”
Durante esta conversa mostrou-me um caderno especial, que não abria desde que voltou da ilha do Príncipe. “Acompanhou-me desde o primeiro dia e foi onde registei tudo”.




A Raquel sentiu, em 2013, um chamamento. Alguma coisa lhe dizia que estava na hora de fazer ainda mais, de dar mais de si. Foi assim que começou a procurar por associações ou organizações de voluntariado jovem com as quais se identificasse. 
“Encontrei a Sonha Faz e Acontece que agora tem dois projectos: o da ilha do Príncipe e o de Portugal. A SFA começou com uma viagem de quatro amigos à ilha, onde perceberam que as pessoas locais tinham muito valor”. Nasceu assim a vontade desse grupo de amigos criar uma associação, não apenas numa lógica solidária mas mais activa, um projecto de empreendedorismo social. Este projecto é especial porque é feito a par com as pessoas locais, que melhor do que ninguém conhecem as necessidades das pessoas da ilha e o que faz mais ou menos sentido aplicar. A diferença é que todas as intervenções são feitas com base num diálogo construtivo em que ambas as partes intervêm. Assim, toda a actuação é feita de forma não invasiva e os locais sentem que os voluntários já fazem parte do Príncipe. É uma família que volta sempre na altura do campo de verão, para trazer tudo o que de bom têm para dar. “A educação era algo que importava todos, porque é o que achamos que faz com que as sociedades evoluam”. No Príncipe criaram um campo de férias, um jornal, uma escola -  a qual reconstruiram -, exposições nas roças e até workshops de fotografia. Também foi desenvolvido um plano de literatura para ler histórias a crianças. “Em 2012 foi a primeira equipa para o local. Depois em 2013, a outra equipa já esteve mais tempo… Quando fui em 2014, muita gente já tinha visto o trabalho da SFA. Só fazemos as coisas que para eles também fazem sentido”.






Esta experiência mudou muita coisa na vida da Raquel. “Isto requer tempo e disponibilidade. Durante a semana posso ter uma ou duas reuniões do projecto e vamos sempre tendo muita troca de emails. O mais difícil é principalmente o tentar desligar-me ao longo da semana de trabalho, da SFA. Não aguento e tenho de ir perguntando sempre coisas sobre o projecto para saber como tudo esta a correr. Sou viciada em emails!”  Este projecto é enriquecedor e não consegue sentir que seja uma coisa que veio acabar com o seu tempo pessoal. “Tem muito a ver com a maneira como tu vives as coisas e não é melhor nem pior. Cada email novo que me chega é mais uma coisa para fazer, mais uma novidade! Mas é tudo compatível. Faço isto, escrevo para um lado, trabalho outro, mas agora penso muito mais em “modo SFA”. É uma parte minha e do meu dia a dia. Todos os dias dou de mim para o projecto e adoro isto. Podia ser algo “ah vai-me estragar o sábado”, mas não! Acho que o segredo é identificarmo-nos. Quando gostas mesmo de fazer uma coisa, arranjas tempo. E tenho sempre tempo para as pessoas que gosto e para aquilo que gosto de fazer”.


 "Esta máquina de escrever era da minha mãe e eu brinquei sempre com ela. Quis manter a sujidade e o aspecto antigo e usado. Também não a quero arranjar porque fui eu que a estraguei de tanto brincar, faz parte".














Terminada a aventura na ilha do Príncipe, a Raquel já andava às voltas com as suas ideias para o plano que se iria seguir. Nesse momento foi convidada para coordenar o projecto da SFA em Portugal. “Neste projecto começámos a receber pessoas do Príncipe porque era aquilo que já conhecíamos e queríamos testar para depois alargar aos outros PALOP. O que estou a fazer agora é ir conhecer núcleos de estudantes africanos a varias faculdades. Nesta altura já temos São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Angola, Guiné Equatorial. Estamos a conhecer outras realidades”. Em Portugal a ideia é disporem de vários voluntários para acompanhar jovens que venham para o nosso país, numa lógica de integração, criação de autonomia e ferramentas para que levem de volta esse conhecimento para os seus países de origem. “Vamos ter um bootcamp este ano onde vamos levar os PALOP que tenham estado em Portugal e que sejam hoje casos de sucesso. Por exemplo vamos ter um cozinheiro que agora tem um restaurante nas Amoreiras, e queremos levá-lo para que todos tenham um exemplo e que lhes conte na primeira pessoa a sua experiência. Vai ser um showcooking porque uma das maiores dificuldades que os beneficiários têm é a comida. Vamos mostrar-lhes que com os alimentos que temos cá eles podem fazer coisas saborosas. Trabalhamos para deixar de ser precisos. Já tivemos voluntários que começaram a alargar os horizontes, ou seja em vez de voltarem directamente de Portugal para os seus países,  já querem explorar e ir mais além antes de regressar”.

A conversa continuava, mas não era preciso muito para perceber que isto é algo maior na vida da Raquel, pela força como descrevia o projecto.

“Ando sempre à procura daquilo que me deixa realizada e feliz, e isso é um dos meus piores defeitos. Não conheço o meio termo; ou há uma Raquel que está “dramática” porque parece que as ideias não fluem ou uma Raquel cheia de projectos novos em simultâneo. Quando tu sentes que alguma coisa está a dar resposta ao teu entusiasmo tens de aproveitar. É isto o que a SFA me dá. Todos os dias tenho uma surpresa nova, todos os dias sinto que há uma grande escalabilidade do projecto. A ideia é que vá passando de voluntário para voluntario, numa lógica de renovação e manutenção da paixão. Não chego e debito coisas, peço opiniões e todos sabem o que estamos a fazer”.

Acho que já deu para terem uma ideia do ritmo a que andam as ideias nesta cabeça… Mas esse ritmo aumentou e algumas coisas mudaram desde a entrada neste grande desafio.
“Isto deu-me muitas ferramentas para o resto da minha vida. Tenho a certeza que desde que entrei até agora que sou completamente diferente. O meu entusiasmo e positividade duplicaram. Mudou o “estar confusa” por ter 400 coisas na cabeça e não ter tanta metodologia para as fazer. A SFA fez com que eu parasse para pensar e estruturar as coisas. Aprendi e cresci muito profissionalmente, e no lado pessoal é como se me tivessem feito realçar os meus melhores lados”. 

O círculo de amigos e pessoas de quem gosta é muito extenso. Mas é o normal para quem não consegue viver sem pessoas e sem estar envolvida de alguma forma nas suas vidas. Através dos seus círculos e da sua veia comunicadora é difícil não aceitar um pedido de ajuda da parte da Raquel. Ela sabe disso e usa essa valência para conseguir ajudar o maior número de causas que conseguir. “Gostava de ter mais tempo para ajudar causas relacionadas com animais. Ás vezes dizem para eu ter calma porque não vou mudar o mundo. Ok não vou mas deixem-me ir fazendo as coisas aos bocadinhos, porque no meu mundo eu estou a mudar. Como não consigo estar numa associação por falta de tempo, ajuda de outras maneiras. Nos últimos dois meses consegui no mínimo 10 adopções de animais através da amigos, e até já existem pessoas de associações que vem ter comigo a ver com eu posso ajudar”.

A lógica é não parar e estarmos preparados para tantas ideias e energia. Mas acreditem que é inspirador. Quem ler este texto e se inspirar, vai querer falar com a Raquel. E acreditem que se falarem sobre o que for ela vai responder e tentar ajudar da melhor maneira que souber.
“O que eu menos gosto nas pessoas que não têm um plano B, é: se isto não vai ser possível o que estás a fazer para ser possível de outra forma? Sou racional mas não fico satisfeita se não conseguir fazer as coisas… Mas gosto de ser assim”.

Ainda bem.














Esta entrevista fez-se na casa da Raquel, rodeada de tudo o que mais gosta, das memórias mais pessoais, dos sonhos que melhor guarda. Foi feita para se espelhar a genuinidade, no epicentro que recolhe tudo o que a representa.

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