DE CÁ, PARA LÁ #5: A OLINDA, ABU DHABI

3/24/2017

Abu Dhabi. Chegava à capital dos Emirados Árabes Unidos a 29 de Setembro de 2013 com os meus bolsos cheios de sonhos.
O meu nome é Olinda Luís da Silva, tenho 28 anos e sou assistente de bordo numa companhia aérea do Médio Oriente.



● Sair do país


Em Portugal, fui licenciada em História pela Faculdade de Letras de Lisboa. Tinha como paixão a investigação, a que me dedicava fora dos horários de trabalho do duplo part time, porque como diz o povo: a vida não está fácil para ninguém. Mas eu até gostava. Sempre a correr de um lado para o outro, sempre ocupada com alguma coisa importante para fazer, e ter sempre de planear tudo com antecedência foi algo que também me deu responsabilidade e me ajudou a crescer e a medir o próximo passo, emigrar. Não por modas, não por vaidades, por necessidade, sim, mas principalmente, por uma vontade enorme de emancipação. Portugal já não me dava aquilo que eu procurava. Via-me como que a estagnar. Num lugar em que já não poderia evoluir da forma como eu me via e desejava a evoluir, leia-se crescer. A rotina do casa-faculdade-trabalho, etc. ao longo de quatro anos ia-se tornando uma realidade cada vez mais permanente.
Decidi que era algo que iria suceder num médio prazo no inicio do verão de 2012. A partir daqui tentei melhorar o meu inglês, adquirir mais experiência na área do atendimento ao cliente e estar envolvida em tudo o que pudesse colocar no curriculum vitae. Em Setembro de 2013, depois das entrevistas todas e da resposta positiva da companhia aérea, mal eu podia acreditar que iria mesmo começar uma nova vida, já no final do mês. É como que fazer um reset. Mas é claro, as pessoas, as recordações e as nossas memórias perdurarão sempre, intocáveis. E ainda hoje, trago comigo a amizade dessas pessoas que embora longe e de contacto não constante, sei que incondicionalmente estarão lá para um cafezinho apressado e um abraço apertado.



● O eu de agora e o eu de quando estavas em Portugal


Um dos desafios é estar longe da família e dos amigos. Claro que aqui conhecemos imensas pessoas, culturas e tradições, mas não há nada como a nossa zona de conforto.
Emirados Árabes Unidos, Abu Dhabi. A capital de um país composto por sete emirados e 45 anos de existência.
Posso dizer que apesar de estar à espera de um `quase` choque civilizacional, a verdade é que não me sinto tão segura em outra parte do mundo. Aqui podemos encontrar todo o tipo de culturas, religiões, costumes e tradições, que se traduz numa enorme riqueza cultural, grandemente fruto do espírito de tolerância e respeito mútuo, fomentado por um dos mentores da união do país, Sheik Zayed. Este senhor, a quem chamam de 'nosso pai', proporcionou que este cantinho, também à beira-mar plantado, fosse uma terra de todos e para todos. Aqui, apenas 13% da população são locais (dados de 2010), os restantes representam todas as outras nacionalidades. A religião oficial é o Islão, mas todas as outras
religiões são de culto permitido. Aqui todos vivem em paz e com qualidade de vida. A meteorologia é entre o quente, muito-quente, a ferver...Mas temos praia todo o ano!



● Prós e contras do país em que estás vs Portugal


A minha vida agora já não passa por planear tudo com antecedência, pois posso estar a contar de ir para a Tailândia e de repente, – roster changes – Japão! Aprendi a ser mais tolerante, a ter mais paciência, a viver o presente, o momento. Aprendi a aceitar o facto de não poder controlar tudo na minha vida, mas que posso gerir aquilo que acontece e que não me foi favorável de uma forma mais adulta e sem crises existenciais. Das várias cidades que visitei todas as experiências, a comida, o dia a dia das pessoas, a cultura e as tradições, me fez perceber quão grandemente afortunada sou. Deu-me a oportunidade de conhecer melhor a mim mesma e a entender que não há nada mais importante do que a família. Que aqueles natais pelo Skype não são a mesma coisa. Mas ao mesmo tempo ser tão grata por algum génio ter inventado tão fantástica ferramenta que encurta as distâncias e mata as saudades (ainda que só por um bocadinho).
Voltar...Parece uma realidade distante neste momento. Gostava muito, sim. Mas a verdade é que ainda não vivi aqui, ainda não explorei aqui, tudo aquilo que queria. Ainda tenho imensos lugares que quero visitar. Sei que este emprego não será para sempre, mas por enquanto quero tirar o máximo partido dele. Num futuro mais distante, quem sabe, Portugal poderá estar no meu horizonte. 
Agora, aqui sou feliz.


Conseguem imaginar que pela descrição da Olinda, não só pelo facto de ter emigrado para um país com uma mutli-culturalidade tão forte mas também pela própria natureza da profissão que escolheu, a sua vida seja uma grande aventura. Por isto mesmo, e por ter tantas imagens para partilhar, a Olinda decidiu compilar algumas das suas viagens num pequeno vídeo. Enjoy!


Imagens: Olinda Silva Franco

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