DE CÁ, PARA LÁ #6: A CATARINA, AUSTRÁLIA

3/30/2017

Sou a Catarina, tenho ¼ de século de idade. Saí em agosto passado de Portugal rumo à Austrália. 

● Sair do país
Saí porque, embora trabalhasse na área em que estudei, não via grandes perspectivas de evolução de carreira e, por outro lado, a realidade também não me permitia sequer imaginar-me a ganhar mais dinheiro do que ganhava – e com o qual quase nem conseguia pagar as contas todas do mês. Sou uma miúda mas desejo muito ter filhos e uma família e mais uma data de coisas com que todos nós sonhamos (viajar, ter uma casa, um carro, ou, simplesmente, inscrever-me num ginásio – qualquer extra no meu orçamento mensal era impensável), no entanto, não me via a ter possibilidades financeiras de avançar com a minha vida se continuasse na mesma situação. Se me vejo a regressar? Vejo, claro que vejo. Afinal de contas, não há nada como a nossa casa e há coisas que não queria viver longe da família e dos amigos. Mas antes disso, há muita volta para dar, muito mundo para conhecer, muita coisa para fazer.


● O eu de agora e o eu de quando estavas em Portugal

Alarguei horizontes, sem dúvida. Até porque decidi mudar-me para a outra ponta do mundo e quando assim é, tudo o resto nos parece perto, fazível. Tornei-me mais forte e mais resiliente. Penso que é algo que acontece com todos ou quase todos os que decidem partir para longe das famílias e dos amigos. Aprendemos a relativizar os problemas porque, de facto, passamos por experiências desafiadoras, que muitas vezes nos põem a questionar se tomámos a decisão certa. Aprendi o que é verdadeiramente a saudade. Aprendi a tolerá-la e a aceitá-la, a vivê-la da forma mais positiva.

Aprendi também que não me posso sujeitar à ideia de que se tirei um curso, é para trabalhar nessa área. Deixei-me dessa ideia, dessa pressão. E percebi que, de facto, em Portugal, os direitos dos trabalhadores são violados constantemente, sem que ninguém se sinta no direito de reclamar.

Ahh! E aprendi a viver sem Zara. Mas isso são outros quinhentos...


● Como era a tua vida antes e agora? 

A grande diferença entre a minha vida em Portugal e a minha vida hoje em dia é financeira. Em meio ano conquistei uma vida financeiramente mais estável e posso, finalmente, fazer planos. Não que ande a nadar em dinheiro, mas posso pensar em fazer coisas que antes nunca conseguiria fazer. Trabalho mais, trabalho muito mais, mas faço-o porque compensa e porque aqui ganho por cada hora que trabalho. Em Portugal podia trabalhar 16 horas num dia. Às vezes nem um ‘obrigado’ recebia, quanto mais dinheiro. 



Para além disso, a vida na Austrália é totalmente diferente, especialmente onde vivo, em Wollongong. É um estilo de vida de chinelo no pé e toalha de praia sempre à mão.

A pior parte é mesmo a distância da família e dos amigos. Porque se antes estava sempre rodeada deles, hoje estou, mas de uma maneira diferente. Ainda assim, é maravilhoso perceber o quanto cada um se dedica a manter a ligação, a querer saber, a continuar a amar.

Ah, já te disse, Marta, que aprendi a viver sem Zara? E tu sabes tão bem como isto é uma grande mudança na minha vida...


● Prós e contras do país em que estás vs Portugal

Ora, como já disse, o maior pró da Austrália é a questão do trabalho, de haver respeito por quem trabalha e por não haver problema em remunerar a dedicação de um trabalhador. Portugal está, infelizmente, numa situação complicada nesse aspeto. Acho que a crise financeira levou a uma crise de valores, e as entidades empregadoras, ou parte delas, consideram que os seus empregados devem agradecer ter um trabalho, sem fazer grandes exigências, sem ‘levantar ondas’.

Por outro lado, a Austrália, ou pelo menos a zona em que eu vivo, vive ao seu próprio ritmo, a tal cultura de chinelo no pé. Um ritmo que eu percebo, porque sempre assim viveram e sempre funcionou, mas ao qual ainda não me adaptei totalmente. Na Europa estamos habituados a eficiência e rapidez e por mais que reclamemos dos serviços públicos, acreditem que aqui a coisa processa-se muito mais devagar.

Ora, claro, na Austrália o tempo da 15 a 0 a Portugal, pelo menos a meu ver, que adoro o verão e o tempo quente. No entanto, tempo quente significa automaticamente bicharada no chão e essa parte já é mais complicada para mim. Ainda assim, não tem sido tão mau como pensei que poderia ser.



Independentemente de tudo isto, acho mesmo, mesmo, que o único verdadeiro defeito da Austrália é ser tão longe de Portugal e, como eu costumo dizer, se fosse para me mudar para um país igual ou semelhante, não tinha saído do meu sítio.

Fotos: Ana Catarina Campos

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