Bom dia com a Luz Ideal

1/23/2017

Quando ainda morava em Lisboa, saía da escola e havia um ritual.
A minha avó ia-me buscar e subíamos as escadinhas da escola até à Avenida de Madrid. Na esquina da mesma avenida com a Rua Cervantes havia - e feliz e surpreendentemente ainda há! - uma padaria.
Era a essa padaria que a minha avó fazia questão de, todos os dias ao lanche, ir comigo ou ir buscar algo para mim. "Eram 5 bolas e uma vianinha", dizia ela. A vianinha era o meu pãozinho do lanche.
Essa padaria tinha e tem uma bancada de pedra, tinha um relógio antigo de madeira na parede e senhoras de bata branca a atender. Os móveis tinham cor esverdeada muito anos 60. O pão vinha em saquinhos de plástico e a minha vianinha vinha embrulhada em papel, um papel grosso, às vezes castanho outras vezes mais rosado.
No outro dia dei por mim a pensar que uma das razões que me faz gostar tanto deste tipo de estética, é esta padaria. Esta padaria ou a cooperativa do fundo da mesma rua onde também íamos buscar vinho. Ou o mercado de Alvalade Sul onde íamos buscar peixe para o almoço e queijo ao "senhor da banquinha de bigode". Todos me dão a mesma sensação e nostalgia que este tipo de coisas me transmitem, talvez porque cresci ali, rodeada delas.
É esta a sensação que me dá quando passo em Alvalade, na Av. de Roma, no Areeiro, nas Avenidas Novas.

E é por isto que sítios como a Luz Ideal me atraem. Os prédios têm a mesma envolvência, têm aquele espírito de bairro que só quem vive e viveu diariamente estas ruas sabe o que é.



























E mesmo que não se conheça assim tão de perto estas ruas, elas chamam quem por ali passa, piscam o olho e sorriem com a sua luz tão própria. Percebo que seja essa a essência deste espaço. Transmitir os tempos áureos destas ruas e deste bairro de S. Domingos de Benfica, que pode passar despercebido na azafama diária das filas de transito e apitadelas, de impropérios vindos de quem está com pressa para ir ou para chegar. Passar despercebido a quem corre para o emprego e para quem quer só passar mais rápido, passar despercebido a todos nós que vamos com a cabeça enfiada nos nosso ecrãs.

Mas basta parar no semáforo, parar na passadeira, virar a esquina ou até estacionar. A Luz Ideal vai entrar pelos nossos olhos e fazer questão de nos convidar a entrar.

Tendo já passado enumeras vezes por lá, entrei no outro dia e não me arrependi.
O frio tomava conta da manhã, mas o sol aqueceu-nos as costas quando nos sentámos no banco junto a uma das vidraças. A luz essa, vinda do sol, trespassava as folhas das àrvores, entrava de soslaio no bairro e dizia de mansinho "fiquem mais um bocadinho".

Ficámos, pedimos chá, café e iogurte com fruta fresca e granola, com cores de outono e de inverno. O espaço, pequeno, é suficiente para relaxar e deixar entrar quem quiser vir, sem acabar com o conforto caseiro e simpático que ali se sente.

As cadeiras são verdes como os armários da antiga padaria, as mesas são de pedra rosa como a bancada da padaria. O conforto é o mesmo, o de casa.

Tão bom.

morada
Rua General Schiappa Monteiro 2A
(esquina c/ Estrada da Luz)
1500-119 Lisboa · Portugal

horário
2ª - 6ª | 09.30 — 20.00
Sábado | 09.30 — 14.30
Domingo | Encerrado

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2 comentários

  1. É a minha segunda casa... :)) A Teresa é uma anfitriã maravilhosa e tudo o que cozinha e faz é delicioso!

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    1. Foi de facto uma boa descoberta, um sítio muito acolhedor :)

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