Então és feminista? É porque está na moda.

1/26/2017


É engraçado. Há alguns temas que ciclicamente na história vão estando mais em voga. Ou são as questões ambientais, ou a legalização do aborto, entre tantos outros.
À parte de opiniões extremistas, as quais eu sou assumidamente contra sejam elas mais positivas ou negativas, há questões que merecem ser discutidas e levadas a sério. 
Existem temas como o do feminismo, que também muito potenciado pela era em que vivemos, são alvos de muitos ataques e golpes. 
O que tenho vindo a notar seja este ou outro tema, é que o facto de alguém ter opinião sobre um determinado assunto mais aceso no momento e mediático, é visto como moda. “Opiniões da moda”. De facto há assuntos que tendem a ser mais abordados, mas isso está directamente relacionado com contextos conjunturais sociais, políticos e económicos. O facto de alguém ter uma opinião sobre determinado assunto não quer dizer que seja directamente porque a maioria das pessoas está a colocar o tema em cima da mesa. Significa que alguém pegou na sua experiência, vivências, juízos de valor, ética e moral juntou tudo muito bem, e de acordo com isso formulou uma opinião.
Acho que existem questões no feminismo que não abonam muito a seu favor, começando pela semântica. 
A palavra machismo é naturalmente utilizada e conotada com acções negativas por parte do sexo masculino, servindo na sua essência para enaltecer características predominantes do sexo masculino (como a força, virilidade) em detrimento das do sexo feminino. Por si só a palavra indica superioridade de um género sobre o outro, e começou por ser usado na década de 60 por feministas da América latina, quando se debatiam sobre a violência masculina contra as mulheres. 
O que acontece é que vejo que muitos homens e também mulheres, olham para o feminismo como um oposto apenas semântico do machismo. E isto aqui não é para começar muito justo, nem correto.
O feminismo debate-se sobre a questão da igualdade de género, não uma rivalidade ao estilo derby futebolístico em que agora estas “miúdas e mulheres modernas e contemporâneas andam para aí a marchar contra”. O feminismo não anda aí feito maluco a lutar para ser opressor do machismo, para inferiorizar os homens e fazê-los ver que “agora é que vocês vão ver que quem tem as calças são as mulheres”. Pelo menos a meu ver não é esse o princípio.
Eu acredito piamente na igualdade de oportunidades, direitos e deveres. A meu ver, a expressão “igualar géneros” faz comichão às pessoas e arrasta com ela conceitos errados.
Os géneros são diferentes, ponto. Não devem nunca ser iguais porque não o são. Há pessoas do sexo feminino, há pessoas, do sexo masculino, há pessoas transgénero, há muita definição de género e cada um é livre de se expressar como se sente. 
Mas não há igualdade em muita coisa e nisso eu acredito. É para aqui que temos de olhar e para o que isso significa intrinsecamente e não para a semântica. 
Mais uma vez eu não concordo com visões extremistas. Não é por achar que existe desigualdade entre salários de homens e mulheres que, no caso de vir a ter algum poder sobre este assunto, faça com que os homens venham a ganhar menos do que as mulheres. Não se trata de uma competição, e aqui só estaríamos a criar desigualdade novamente. O feminismo não é uma corrida sobre quem chega primeiro, é uma corrida sobre quem chega ao mesmo lugar com as mesmas oportunidades.
Trabalho igual deverá ser remunerado da mesma forma seja qual for o género, medido pelo mérito, pela produtividade e capacidade individual. Como indivíduo, não como homem, mulher.
Também não acredito em trabalhos mais masculinos e mais femininos. Existem de facto trabalhos que por exigirem determinada força física podem ser vistos como menos passíveis de ser executados por mulheres, por se atribuir menos força física a este género. Aqui geneticamente podemos até ver assim. Não quer dizer que seja impossível de o fazer, existem mulheres que fisicamente estão mais capazes de executar essa força do que alguns homens.
É tudo uma grande bola de neve. Se alguns trabalhos não fossem 100% populados por homens, talvez a inclusão de mulheres em alguns meios de trabalho não fosse tão hostil. E só por si este pensamento já revela um problema. Ninguém deveria sentir hostilidade fosse qual fosse o meio.
No outro dia falava com uma amiga que me disse que um colega lhe perguntou: “O que fazes aqui neste trabalho? Uma pessoa como tu não se enquadra aqui”. De facto não se enquadra. É um caso de uma pessoa que tirou um curso que lhe dá muito mais ferramentas para o que está a fazer agora. É alguém com mais competências e subaproveitada na sua área de formação, isto é O facto. E o comentário do colega em causa nem foi feito com a intenção de “não tens capacidade de aqui estar” mas sim na ótica de “merecias melhor, és capaz de mais e de diferente”. E no geral devíamos pensar mais assim. Mas isso não invalida que ela não tenha a mesma capacidade que um homem para estar naquele trabalho, que apesar de duro o executa na perfeição e é remunerada por isso. Uma mulher não se devia sentir incomodada por ir trabalhar numa fábrica com muitos colegas homens, nem um homem devia achar estranho uma mulher desempenhar um papel físico mais exigente.
Não gosto de feministas extremistas. O que é igual a não gostar de pessoas que acham que devem diminuir alguém para verem as suas ideias afirmadas. O que acho para um lado acho para o outro. Não gosto de extremismo, ponto.
O que não gosto mesmo é de injustiças e falta de igualdade de oportunidades. As pessoas que são feministas e não o levam ao extremo, penso que acreditam também nisto. Queremos apenas poder chegar ao mesmo lugar com as mesmas ferramentas, com mérito. As feministas não querem que os homens passem a ganhar menos que elas, querem a possibilidade de ganhar tanto como eles exercendo funções iguais. As feministas não querem um cargo de poder e que o homem fique em casa a lavar a loiça. Querem que, caso o companheiro, marido, amigo, namorado o queira fazer, não seja recriminado nem diminuído por isso. Não querem que a sociedade os renegue por “serem uns calões que ficam em casa com os putos enquanto a mulher trabalha para o sustentar”
Não querem que, no caso de terem uma promoção e por acaso até se vestirem bem, cheirarem ao perfume it do momento e até serem “girinhas”, que se pense: “pronto subiu porque aquelas calças justinhas fazem milagres”. Da mesma maneira, pelo menos eu, não acharia justo que se dissesse o mesmo do gajo giro do escritório ter tido um upgrade na sua etiquetagem laboral “porque a chefe lhe acha um piadão”, e não porque fez o que lhe competia e que por acaso (uau espétaculo!) até o fez bem. 

Para um peso, uma medida. Por favor.

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